Conhecimento, Orgulho, e Cuidado com os Outros

No que se refere às coisas sacrificadas a ídolos, sabemos que todos temos conhecimento. O conhecimento leva ao orgulho, mas o amor edifica. Se alguém julga conhecer alguma coisa, ainda não conhece como deveria conhecer. Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele.

Quanto a comer alimentos sacrificados a ídolos, sabemos que o ídolo, por si mesmo, nada é no mundo e que não há senão um só Deus. Porque, ainda que existam alguns que são chamados de deuses, quer no céu ou sobre a terra --- como há muitos “deuses” e muitos “senhores” ---, para nós, porém, há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos, e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem todas as coisas existem e por meio de quem também nós existimos.

Entretanto, nem todos têm esse conhecimento. Alguns, acostumados até agora com o ídolo, ainda comem desses alimentos como se fossem sacrificados a ídolos; e a consciência destes, por ser fraca, vem a contaminar-se. Não é a comida que nos torna agradáveis a Deus, pois nada perderemos, se não comermos, e nada ganharemos, se comermos. Mas tenham cuidado para que essa liberdade de vocês não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos. Porque, se alguém enxergar você, que tem conhecimento, sentado à mesa no templo de um ídolo, será que a consciência do que é fraco não vai ser induzida a participar de comidas sacrificadas a ídolos? E, assim, por causa do conhecimento que você tem, perde-se o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu. E, deste modo, pecando contra os irmãos, ferindo a consciência fraca que eles têm, é contra Cristo que vocês estão pecando. E, por isso, se a comida serve de escândalo ao meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo. (1 Coríntios 8:1-13, NAA)

Ao ler a primeira parte dessa passagem, eu me lembro de um alerta importante que li muitos anos atrás, escrito por J. I. Packer em seu livro clássico, Knowing God (Conhecendo a Deus, tradução livre), publicado por IVP, em 1973 (p. 17):

…antes de começarmos a subir a montanha, precisamos parar e fazer a nós mesmos uma pergunta fundamental - uma pergunta, de fato, que sempre devemos fazer a nós mesmos quando embarcamos em qualquer linha de estudo do Livro Sagrado de Deus. A pergunta diz respeito às nossas próprias motivações e intenções como estudantes. Precisamos nos perguntar: qual é o meu objetivo final e o propósito de ocupar minha mente com essas coisas? O que pretendo fazer com meu conhecimento sobre Deus, uma vez que o tenha adquirido? Pois o fato que temos de encarar é o seguinte: se buscarmos o conhecimento teológico por si só, ele certamente será ruim para nós. Ele nos tornará orgulhosos e convencidos. A própria grandeza do assunto nos intoxicará, e passaremos a nos considerar um nível acima dos outros cristãos por causa de nosso interesse e compreensão do assunto; e desprezaremos aqueles cujas ideias teológicas nos parecerem rudes e inadequadas, e os descartaremos como espécimes muito pobres. Pois, como Paulo disse aos coríntios convencidos, “o conhecimento leva ao orgulho… se alguém julga conhecer alguma coisa, ainda não conhece como deveria conhecer” (I Cor. 8:1 f, RV). Preocupar-se em obter conhecimento teológico como um fim em si mesmo, abordar o estudo da Bíblia sem um motivo maior do que o desejo de saber todas as respostas, é o caminho direto para um estado de autoengano satisfeito. Precisamos proteger nosso coração contra essa atitude e orar para sermos protegidos dela.

O orgulho é um perigo bastante real para mim quando estudo a Bíblia e lidero estudos bíblicos. O antídoto para o orgulho é o amor. Somente quando amo a Deus e amo as pessoas a quem eu ensino é que consigo manter o foco na bondade e na graça de Deus e louvá-Lo pela mensagem do Evangelho que recebemos e estudamos com gratidão. Paulo também afirma que, se amamos a Deus, somos conhecidos por Ele, e ser conhecido por Deus é muito mais precioso do que meu conhecimento limitado sobre Ele! Eu deveria sempre encontrar mais satisfação no conhecimento que Deus tem de mim do que no meu conhecimento dEle. Separe um tempo para agradecer ao Senhor pelo amor que Ele tem por você e pelo conhecimento que tem a seu respeito.

Mais à frente, na mesma passagem, Paulo adverte sobre como devemos usar nosso conhecimento. Devemos nos certificar de que, com nosso maior entendimento e senso de liberdade a respeito de alguma questão, não façamos com que nossos irmãos e irmãs, que talvez ainda não entendam certa verdade importante, ajam contra suas consciências. A violação de sua própria consciência pode encaminhá-los ainda mais à tentação. Novamente, o princípio orientador da vida não está apenas no conhecimento que temos, mas no amor que devemos demonstrar aos nossos irmãos e irmãs em Cristo, cuidando deles mais do que da nossa própria liberdade. Paulo diz que quando insistimos em nossos próprios direitos e liberdades, fazendo com que um irmão ou irmã tropece em seu senso de obediência a Deus, pecamos contra Cristo. Que Deus nos livre disso! Que possamos amar nossos irmãos e irmãs mais do que amamos nosso conhecimento e liberdade pessoal. Para alguém criado em uma cultura ocidental que defende os direitos do indivíduo, isso é um desafio, e preciso pedir ajuda a Deus para fazê-lo. Meu amor pelos outros deve aumentar e meu orgulho pelo conhecimento deve diminuir. Oro para que você busque estes mesmos alvos comigo!

Pai, sou muito grato por seu amor e conhecimento a meu respeito. O Senhor conhece minhas falhas, minhas tentações ao orgulho, meu amor frágil por meus irmãos e irmãs em Cristo. À medida que aprendo mais sobre Seu maravilhoso evangelho e a liberdade que tenho em Cristo, ajude-me a usar essa liberdade como uma forma de amar os outros, não insistindo em meus próprios direitos e liberdades. Não importa quanto conhecimento eu adquira de Sua Palavra e visão de Seu caráter, ajude meu amor por Ti e pelos outros a ser a força controladora de como eu utilizo esse conhecimento. Ajude-me a não pecar contra O Senhor por causa de meu orgulho tolo. Por favor, perdoe-me quando eu pecar e me ensine a amar melhor. Amém.

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