A Marca do Discipulado
“Eu lhes dou um novo mandamento: que vocês amem uns aos outros. Assim como eu os amei, que também vocês amem uns aos outros. Nisto todos conhecerão que vocês são meus discípulos: se tiverem amor uns aos outros”. (João 13:34-35, NAA)
A passagem de hoje é bem breve, e gostaria que você fizesse uma pausa e a lesse algumas vezes, devagar. Isso aconteceu no final do ministério de ensino de Jesus. Ele terminou de celebrar a Páscoa com Seus discípulos no cenáculo e lhes deu símbolos de uma nova aliança que Deus está fazendo com Seu povo. O corpo de Cristo será entregue e Seu sangue será derramado por eles, mas eles ainda não entendem tudo isso. Ao concluir Seus ensinamentos, Jesus se concentra em uma questão crítica. O que marcará aqueles que são Seus seguidores? O que distingue Seus discípulos aos olhos do mundo? A resposta simples de Jesus é: o amor que eles têm uns pelos outros, segundo o modelo do próprio amor de Jesus por eles.
Reflita por um momento o que está prestes a acontecer. Jesus sabe que será preso, julgado e crucificado. Seus discípulos estão prestes a perder seu Mestre, e Ele é a única coisa que os mantém unidos. Claro, alguns dos discípulos são irmãos, alguns compartilham um ofício comum (pesca), mas não há nada mais que os una, a não ser o compromisso comum com Jesus. Consigo imaginar as tensões que surgiram por vezes entre Simão, o Zelote, que buscava acabar com o domínio romano sobre Israel, e Mateus, o cobrador de impostos, um colaborador dos romanos. Com a ausência de Jesus, seria fácil para esse grupo se dividir em facções rivais, se separar e perder seu impacto como discípulos de Cristo. Jesus conhece os perigos e lhes dá esse novo mandamento de amar uns aos outros. Esse amor deve ser profundamente sacrificial, firme e inabalável, como o amor que Jesus demonstrou a eles.
Nós, que lideramos estudos bíblicos, somos chamados para sermos discípulos de Cristo em primeiro lugar e depois ensinar os outros. Nosso discipulado pessoal é fundamental, é mais importante para Deus do que as tarefas que assumimos em Seu nome. Se isso for verdade (e acredito profundamente que seja), então devemos permitir que Jesus, por meio dessa passagem, examine nossos corações e nossas ações para ver onde estamos amando bem e onde não o estamos fazendo. Podemos ser inteligentes. Podemos saber muito acerca da Bíblia. Podemos ser bons em liderar discussões em grupo. Podemos ser espirituosos e ajudar as pessoas a se sentirem confortáveis em nossos grupos. Podemos praticar bem as disciplinas espirituais e fazer orações impressionantes em público. Nada disso, por mais útil que seja, nos marca como discípulos de Cristo. De acordo com Jesus, somente o amor o faz. E Jesus não está falando apenas de afeição, carinho ou “gostar”. É o tipo de “amor inabalável” que Deus mostrou ao Seu povo no Antigo Testamento e que Jesus demonstra com Seus discípulos quando eles fogem quando Ele é preso. Ele não deixa de amá-los quando eles têm medo ou desobedecem. Essa qualidade de amor por nossos irmãos e irmãs em Cristo nos marca como Seus discípulos.
No livro The Church at the End of the 20th Century (A Igreja no Final do Século 20, tradução livre), publicado por IVP, em 1970, Francis Schaeffer escreveu um apêndice sobre “A Marca do Cristão”, debruçando-se sobre essa passagem e em João 17. Ele observa que a declaração de Jesus aqui não é um fato, mas, uma ordem com uma condição. Se amarmos uns aos outros, então as pessoas saberão que somos Seus discípulos. Como Schaeffer ressalta, esse amor é aquilo que nos distingue como pessoas que seguem a Cristo. O amor que recebemos dEle nos transforma, capacitando-nos a amar os outros. E quando as pessoas perceberem essa diferença, saberão que somos discípulos de Jesus.
Quero ser um discípulo fiel de Jesus Cristo e quero que as pessoas vejam a diferença que Ele causou em mim. Em última análise, isso não será revelado pelo meu conhecimento da Bíblia (por mais importante que seja para ensinar outras pessoas), pelas habilidades de liderança em discussões (por mais úteis que sejam para facilitar o aprendizado em grupo) ou pela fidelidade às disciplinas espirituais (por mais benéficas que sejam para me ajudar a estar em harmonia com a obra de Deus em minha vida). É o fruto da obra de Deus em meu coração, estimulando-me a amar como Ele me amou. O amor é a marca que devo carregar.
E você? Quando as pessoas o veem, com o passar do tempo, elas sabem que você é um discípulo de Jesus porque veem em você uma qualidade de amor para a qual não há outra explicação? Será que o amor de Cristo o impactou de tal forma que os outros enxergam a Ele quando você interage com seus irmãos e irmãs em Cristo? Se você já viu esse tipo de transformação de Deus em sua vida, agradeça a Ele. Quando estiver lutando para amar bem, busque a ajuda de Deus para se lembrar do amor de Cristo por você, pois, embora você tenha se rebelado contra Ele, ainda assim Ele o amou e deu a vida por você. Espero que você se torne um ótimo líder de estudo bíblico, mas, mais ainda, oro para que tenha a marca do cristão como alguém que ama como Jesus ama.
Pai, O Senhor me amou tão bem, tão fielmente e tão profundamente. Obrigado por enviar Cristo para morrer por mim, para que eu pudesse ser perdoado de meus pecados e restaurado em um relacionamento certo com o Senhor. Obrigado por me amar todos os dias, especialmente naqueles momentos em que não há nada de amável em mim. Por favor, transforme meu coração com Seu amor para que eu seja mais capaz de amar Seu povo, meus irmãos e irmãs em Cristo. Que essa seja a marca que O Senhor deixa em minha vida, e que os outros saibam que sou discípulo de Jesus por causa desse amor transformado. Amém.
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